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| Sayonara, posando para as lentes do Cidade Hoje Notícias |
32. Sofreu discriminação nesta instituição? sim, não em relação à instituição, mas com colegas de faculdade mesmo, que tinham vergonha de ficar próximo de mim, e acabava ficando isolada ou mesmo apresentando meus trabalhos acadêmicos sozinha.
33. Antes de lecionar o que fazia? Sempre me dediquei aos estudos, mas antes de ingressar faculdade e lecionar, já atuei como auxiliar de cozinha num restaurante do Center Shopping, trabalhei de caixa e balconista em lanchonetes e já fui diarista.
34. Em que idade começou a se perguntar que tinha algo errado com seu corpo e que gostaria de ser mulher? Desde tenra infância, acho que aos 6, 7 anos de idade eu já não me identificava com a fisionomia masculina, e admirava o biotipo feminino, queria ser mulher, vestir como tal e daí começou o meu sofrimento.
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| Se preparando para apresentar no evento promovido pela Triângulo Trans em abril |
35. A partir de que idade começou a se vestir como mulher ou melhor de travesti? Lembro que aos 7, 8 anos de idade, normalmente eu esperava meus pais saírem para trabalhar, e eu era apaixonada na época pelas ajudantes de palco do Chacrinha e do Bolinha, então eu colocava um maiô da minha mãe, passava batom, colocava um tamanco dela e amarrava uma toalha na cabeça e ficava dançando pela casa imitando elas nos palco. Uma vez minha mãe me pegou com o batom na boca e me bateu muito e internalizei isto dentro de mim, passei a ter medo. Posteriormente comecei a fazer laços de amizades com as meninas, ai sim na casa delas eu podia brincar com elas, com suas bonecas e me vestir como elas. De acordo com que fui crescendo e desenvolvido percebi o preconceito que existia com os gays e em especial com as travestis, mas era apaixonada por Telma Lip e Roberta Close que eram ícones na época. Aos 18 anos comecei a sair um gay vizinho que me levou a algumas boates gays de Uberlândia e conheci várias travestis e vi realmente que era aquilo que eu queria. Mas fiz o processo inverso de todas as meninas, optei por trabalhar e estudar primeiro, fiz faculdade, ingressei no magistério, depois que comprovei que independente da minha orientação sexual eu tinha competência no que fazia, comecei a fase de tratamento hormonal, até a colocação de próteses mamarias, e assumir o visual feminino 24 horas.
36. Fez programas nas ruas de Uberlândia? Mais ou menos, na verdade cheguei ir um final de semana com uma travesti para a João Naves de Ávila, deveria ter um 19 anos na época. Lembro que parou um carro com 2 homens de fora da cidade e me levaram para um terreno baldio e praticamente me estupraram, não sabia como era a rua, não tinha conhecimento de nada, da malícia, não recebi nada por isto. Quando acabaram me deixaram na rua de novo, praticamente me expulsando do carro, isto foi meio traumático, e ainda lembro que na mesma semana encontraram o corpo de uma travesti baleada na mesma rua. Depois desta experiência não tive contato mais com a rua enquanto meio de trabalho.
37. Quando e como começou a ter vontade ser professora? Na verdade sempre quis, eu era apaixonada pelas minhas professoras, a forma como elas ensinavam, é vocação.
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| Sayoanara ladeada pela Pâmela Volpe e Aldair Reis |
38. Você fez a cirurgia de mudança de sexo? Não, estou em tratamento pelo SUS na Universidade Federal de Uberlândia e saindo tudo certo devo operar logo na Universidade de Goiânia que tem um convênio com a Universidade daqui. Faço sessões com psiquiatras, psicólogos, hormonização, temos todo tipo de atendimento e acompanhamento no programa.
"...eu era apaixonada pelas minhas professoras, a forma como elas ensinavam, é vocação. "
39. Quando criança, jovem e adulto foi muito humilhada? Sim, até hoje sofro humilhações.
40. Pode contar um caso? Quando criança as mães proibiam os filhos de andarem comigo pelo meu jeito afeminado, elas tinham medo de que uma criança de 10 anos, digo eu, fizessem sexo forçado com os filhos delas. Na escola muitos zombavam de mim, me batiam, me empurravam no chão. Lembro que alguns meninos me forçavam a ir no banheiro com eles na escola e me forçavam a fazer sexo oral neles. Uma vez aos 13 anos, 3 garotos mais velhos me levaram a uma casa em construção e abusaram de mim sexualmente, mas eu tinha medo de contar isto aos outros. Na faculdade tem dois momentos que não esqueço, uma vez na aula de cartografia, as mesas na sala eram enormes e tinha 4 assentos em cada mesa para trabalharmos com mapas, quando sentei num grupo de 3 rapazes os mesmos levantaram para outra mesa e me deixaram sozinha. Eu fui diretora do Diretório Acadêmico da Geografia por 2 anos e realizei uma festa na extinta boate Frisson para arrecadar dinheiro para o D.A., quando divulguei os cartazes da festa, os alunos da Geografia rasgaram todos os cartazes a noite e colocaram fogo, pois não queriam ver o nome do curso envolvido como uma boate gay. Tem outra passagem numa escola, éramos 4 professores de geografia e eu atuava a noite com outro. Ele era um péssimo professor, não tinha compromisso com nada, e os alunos dele faziam módulo comigo para tirar dúvidas. O módulo é dado em horário anterior ao inicio das aulas, e alguns alunos sempre freqüentaram as minhas aulas de reforço, um dia a vice-diretora da escola me chamou na sala dela e me questionou o fato destes alunos assistirem módulo comigo insinuando como se eu estivesse assediando eles. Já passei inúmeras situações, dentro da família, no trabalho e até mesmo com ex namorados meus.
41. Já saiu com homens famosos de Uberlândia? Sim
44. Pode citar pelo menos em que ramo eles trabalham? Líderes religiosos e gente influente na política.
45. Sua mãe e pai sempre te apoiaram? No início não, mas depois acabaram se conformando, meu pai é falecido, resido com minha mãe, às vezes temos algum choque de geração, conflito de idéias, mas tudo é resolvido com diálogo.
46. Tem irmãos? Te apoiam ? e seus primos e tios ? Sim, a família toda hoje me apóia e me respeita.
47. É pessoa de muitos amigos? Não, sempre vivi meio isolada, tenho vários colegas, mas amigos poucos.
48. Como é seu relacionamento na escola onde leciona? Muito bom, com alunos, comunidade e colegas de trabalho, todos me respeitam, as vezes agente percebe um olhar torto, mas muita coisa agente deixa passar.
49. Como a direção e os alunos te trataram no começo? Sempre com o maior respeito, as pessoas mudaram muito a concepção sobre orientação sexual, a mídia retrata muito este assunto, e existem leis que nos amparam.
"...as pessoas da direção mudaram muito a concepção sobre orientação sexual, a mídia retrata muito este assunto, e existem leis que nos amparam."
50. Como foi que chegou à disciplina que atualmente leciona? Foi influência ou gosto pelo assunto? Interesse pela evolução do mundo e do homem.
52. No seu orkut, noto que há frases de rancor e sede de vingança. Você se dirige a alguém em especial ou a várias pessoas? Há várias pessoas que já me fizeram sofrer.
53. Já posou nua? Pretende posar? Não, nem pretendo, não tenho corpo nem idade para isto, tinha vontade sim de fazer um ensaio sensual, já até procurei algumas pessoas, mas é muito caro, e meu salário de professor não dá pra pagar.
54. Recomenda às outras travestis que pretendem fazer? Eu sou infeliz com meu sexo, sou transexual, meu cérebro funciona como mulher, eu rejeito meu sexo, tenho vergonha, não gosto de me olhar no espelho, e isto me faz uma pessoa triste. Quando isto acontece, com certeza recomendo e indico a cirurgia sim, mas e muito lento pelo SUS, demora até 2 anos o tratamento e não é certeza que saia.
55. Em Uberlândia? Se eu fizer será em Goiânia, em Uberlândia não tem esta intervenção cirúrgica.
56. O custo é alto? Gostaria muito de fazer particular, mas não tenho este recurso, sei que o Dr. Jurado de Jundiaí e o Dr. Renato Cury de São José do Rio Preto fazem a intervenção por ate 20.000, muitas amigas minhas fizeram na Tailândia que sai mais ou menos este custo também. Se eu tivesse o recurso com certeza eu faria sim. É complicado, pelo SUS é demorado, particular é muito caro, e eu não tenho condições. Ou talvez alguém se sensibilizasse pelo caso e arcasse com meus custos, estou aberta a propostas.
57. Como relação ao seu namorado, quais são seus planos? Vivem juntos? Pretendem casar? Adotar uma criança? Vivo hoje minha terceira relação, morei com um namorado 5 anos, o segundo ficou comigo 3 anos e atualmente estou com este. Não moramos juntos, pois a família dele não sabe de mim, acabo ficando a margem da sociedade em alguns casos.
| Sayonara com seu namorado, na Parada do Orgulho Gay 2010 |
58. Como conheceu ele? Quanto tempo de namoro? Conheci ele em 2002, mas na época eu vivia com outro homem e ele era casado e tem filhos. Depois reencontrei ele em 2009 numa balada ficamos juntos, e já estamos a um ano e meio. Vejo ele pouco, uma vez na semana, pois tem filhos, um final de semana está comigo o outro com os filhos. Os irmãos sabem de mim, o restante da família não e mesmo se soubesse não aceitaria.
59. Ele tem muitos ciúmes de você? Sim, ciúmes dentro da normalidade.
60. É mais novo ou mais velho do que você? É mais novo que eu 7 anos.
61. Faz o que? Tentou o magistério, mas não gostou, faz faculdade e atua hoje numa grande empresa internacional.
Na sexta feira, publicaremos, a terceira e última parte desta polêmica entrevista, em que Sayonara Nogueira, irá falar sobre o preconceito que sofreu na UFU, a relação que tem com os alunos que esta tendência, sobre o machismo, seu hobby, seu esporte e muito mais!



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