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domingo, 16 de janeiro de 2011

Terceira e última parte da entrevista da primeira professora trans de Minas Gerais

 62. Seu namorado faz o que?
Tentou o magistério, mas não gostou, faz faculdade e atua hoje numa grande empresa internacional.

63. Você tem uma vida social normal? Passeiam, vão ao cinema, shopping, lojas, centro da cidade, restaurantes, teatros, praças e eventos públicos?
Sim, sempre que estou com ele, freqüentamos restaurantes, boates, shows, cinemas, fazemos compras juntos, ele vai muito à escola que eu trabalho. Evitamos freqüentar locais próximos a sua residência para evitar que alguém de sua família veja.



64. Ainda sofre preconceito quando está na rua ou quando entra em algum local público?
Não, normalmente pelo meu comportamento as pessoas não me identificam como travesti, quem sabe me respeita pela posição que assumo hoje, é tanto que vivo o dia, dou 10 aulas por dia, freqüento academia, ando de ônibus e ninguém me aborda de maneira ofensiva.

65. Quando solta algum comentário ou piada, você reage?
Sim, volto e pergunto se algum problema comigo e a pessoa que está tentando me ofender.

66. Já bateu em alguém ? homem ou mulher? Quando?
Sim. Homem. Ex-marido. 2002. Motivo: traição.

67. Já apanhou? Homem ou mulher ? quando ?
Sim. Já apanhei de homem, hoje em dia não, mas na adolescência e inicio da juventude apanhava muito.

68. Gosta de usar roupas sensuais? Para aparecer ou acha normal?
Uso roupas sensuais para uma balada por achar normal, para trabalhar sou séria e formal.

69. Sua identidade ainda consta seu nome de registro. Pretende entrar na justiça para mudança de nome?
Sim, estou reunindo documentos que comprovam que sou tratada como Sayonara 24 horas para entrar na justiça.

70. Qual nome?
Sayonara Nogueira – Gosto de Silvia talvez eu até mude.
Sayonara e o entrevistador Aldair Reis do Canal 7 a cabo.
71. Faria filme pornô se o cachê fosse alto?
Não, não tenho corpo e nem idade para isto.

72. Se recebesse uma proposta para fazer um programa com algum empresário, por um dinheiro que mudasse sua vida completamente para sempre, você aceitaria?
Se fosse um dinheiro que desse para arcar com minha cirurgia de troca de sexo eu toparia sim sem problemas, quero muito adequar à realidade do meu sexo com minha alma, com meu cérebro, e se fosse para eu ser feliz, eu faria sim, é difícil, e dói muito viver assim. A dor é na alma, no coração. Choro quase todos os dias à noite.

73. Como é a cabeça de seu namorado com relação a isto?
Ele nunca aceitaria se eu fizesse programa, ele sempre enfatiza que escolher estar comigo por ser decente e ter caráter.

74. Se nascesse mulher, quem gostaria de ser?
Glória Pires

75. Qual mulher admira? E homem?
Glória Maria – Evaristo Costa

76. Qual travesti que admira em Uberlândia e no Brasil?
Pâmela Volp – Valkira La Roche

77. Quem mais detesta?
Alexandre Nardoni, Anna Carolina Jatobá, Suzane von Richthofen

78. O que mais detesta em uma pessoa?
Hipocrisia e leviandade

79. O que mais detesta em uma travesti?
Em algumas, o comportamento.

80. O que mais detesta em uma mulher e um homem?
Na mulher a inveja, o despeito. No homem a infidelidade.

81. Qual país gostaria de morar?
Estados Unidos ou Itália.

82. Já fez lipoaspiração ou plástica além da cirurgia ?
Fiz somente colocação de próteses mamarias.

83. Pratica algum tipo de esporte?
Sim. Power Jump

84. Qual é seu hobby?
Ler poemas e poesias da Clarice Lispector e Cecília Meirelles e transcrevê-los.

85. O que gostaria de falar ou escrever e que nunca oportunidade?
“NÃO, NINGUÉM SABE O QUANTO EU TE AMEI! NEM MESMO VOCÊ!”

86. Quem mais admira na sua profissão de professora?
Vânia Vlach – doutora em Geografia pela Universidade de Paris e é professora universitária no Curso de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia.

87. O que mais admira nesta profissão?
O saber ensinar, o conhecer os limites dos outros, a formação de opinião, o poder de transformar socialmente uma pessoa. Tornar uma pessoa cidadã.

88. Se ganhasse um milhão de reais, o que faria agora?
A cirurgia de troca de sexo e as cordas vocais.

89. Te algum projeto de social ou cultural para realizar?
Sim tenho um projeto com a Alexia que atua na Triangulo Trans de inclusão digital das travestis para inseri-las no mercado de trabalho, mas está parado, temporariamente.

90. Já fez parte de alguma atividade social e voluntária?
Atuo na ONG Shama pela defesa dos direitos LGBTT e o fim do preconceito.

91. Já sofreu preconceito por parte de seus colegas de profissão?
Sim, esporadicamente, principalmente pela parte mais hierárquica. Por exemplo, a inspetora da E. E. Ignácio Paes Leme, vive me chamando de Marcos pelos corredores, me alfinetando que não sou mulher então vai me chamar sim pelo nome do registro civil.

92. Teve dificuldade em seu aceita na UFU?
Pela UFU não, mas pelos colegas do curso sofri muito com o preconceito, engraçado que a pessoa que mais pisou durante o curso, acabou na cama comigo.

93. Dirige algum veículo? Se sim, já teve dificuldade em se identificar em alguma blitz?
Comprei carro em 98, fiz auto escola, mas nesta época meu pai sofreu 4 AVCs e tive que vender para ajudar no tratamento, depois disto nunca mais peguei um carro.



94. Algum aluno já te confessou que tem a mesma vontade que vc teve de ser travesti?
Sim, trabalhei numa escola na área periférica que tinha 2 alunos com tendência ao travestismo. Sentei e conversei com eles, contei sobre a vida de uma travesti, e que independente da escolha deles eles deveriam estudar, investir numa universidade para ocupar um lugar melhor na sociedade. Um destes alunos eu sei que concluiu o 3º colegial o ano passado e o outro foi embora para Itália e está se prostituindo lá.

95. Algum aluno ou aluna já te perguntou sobre como ficou seu órgão sexual depois da operação?
Sempre digo que ainda estou em tratamento.

96. Nas suas salas de aulas, você tem alunos travestis ou com tendência para tal?
Hoje nas escolas que atuo não tenho alunos travestis e nem com tendências, tenho alunos com orientação sexual voltado para a homossexualidade e alguns deles já são assumidos.

97. Você já conversou com eles à respeito? E com os pais deles?
Converso muito com estes alunos, principalmente sobre preconceito, somente uma mãe até hoje me questionou sobre a orientação do filho dela. Mas não respondi nada a ela sobre a questão, e deixei bem claro que meu papel na sala de aula é dar aula de geografia e não observar a orientação dos meus alunos.

98. O que acha dos homens machistas que não admitem pessoas como você?
A maioria dos homens são assim mesmo. Acredito que a maneira que foram criados, as regras que a sociedade as vezes impõe, é um dos principais motivos de não aceitarem a travesti.Cabe a nós exigir respeito por parte destas pessoas e mostrar que somos cidadãos normais. Eu pessoalmente não me importo com o machista que não me aceita ou não me admite, porque não invado o espaço dele e também não permito que ele invada o meu.

99. Quando entra em algum restaurante, algum comércio ou local público, e as pessoas ficam olhando. Você se incomoda?
Normalmente isto não acontece e se acontece não me incomoda também.

100. Suas palavras finais:
A vida foi muito cruel comigo, acredito que nasci num corpo errado, já fui muito humilhada e pisada pelos outros. É triste se olhar e ver que seu sexo não corresponde ao seu cérebro, que seu companheiro não pode levar você a casa dele por preconceito da sociedade, saber que você é observada ou julgada o tempo todo por ter uma orientação sexual diferente. Isto tudo vem me tornando uma pessoa fria, que deixa de acreditar nas pessoas, muitas vezes a noite eu choro e oro e peço a Deus para me levar, mas quando chego na escola e vejo o carinho que meus alunos tem por mim, o abraço, o beijo, a flor, o presente recebido por eles redobro minhas forças para continuar minha jornada e minha luta pelo fim do preconceito.


Devido ao tratamento que faço e ao sentimento que possuo em relação a minha orientação sexual e o meu psicológico eu sou enquadrada como transexual, após a cirúrgia serei uma mulher transexual. Oficialmente a ocupar cargo público como professora no Estado de Minas Gerais em situação efetiva de atuação tem somente eu. A primeira foi a Valkiria La Roche que hoje atua no Centro de Referência Homossexual em Belo Horizonte, e é formada em Educação Física, entao atuando em cargo público há somente eu, aqui em Uberlândia existe a professora Edna que atua na rede particular, mas não temos contato com ela. Somos poucas professoras no Brasil todo, e estamos montando a Rede de Educadoras Trans, com apoio do Governo Federal, hoje devamos ser um universo de 10 professoras em atuação. Existem muitas meninas formadas, mas que nao quiseram seguir a profissão. Pode me chamar como professora trans pois é assim q me sinto, uma transexual.

Esta entrevista também foi concedida ao Canal 7 a cabo para o apresentador Aldair Reis.
Vale a pena conferir.

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